Portugal demonstrou, na noite passada, aquilo que já tinha escrito na noite anterior (https://tactictalks.org/2024/06/19/euroshorts-ganhar-mas-a-sofrer-razoes/), ou seja, que as equipas ditas “favoritas” estāo a passar por grandes dificuldades neste Europeu 2024.
Questāo: se sāo Jogos de Preparaçāo, o que estivemos realmente a preparar?
Um jogo à partida teoricamente acessível, mesmo tendo em conta as surpresas guardadas quando o 11 inicial foi revelado oficialmente. A superioridade portuguesa foi, entretanto, confirmada nos primeiros instantes do jogo, onde várias foram as situações em que os atletas checos demonstraram as suas limitações, ao terem dificuldades em ter sucesso nas suas acções técnicas – mesmo sem grande oposiçāo lusa.
Mas, antes do Jogo, vamos ao início: o 11 inicial foi de difícil entendimento. Mas nāo era um novo pensamento que assaltava. Aliás, os mais recentes Jogos de Preparaçāo foram igualmente duvidosos, nāo pela qualidade da equipa (acho impossível alguém duvidar disso), mas pela falta de coerência e consistência da equipa. Nāo existe um 11, longe disso. Ou mesmo um leque de 14/15 jogadores por onde eleger o 11, como muitos treinadores preferem quando definem um plantel.
Ok, até aqui tudo bem. Temos realmente muitos e bons.
Mas, também, nāo existe um sistema preferencial, ou uma consistência – até posicional ou zonal – dos atletas que vāo interagindo nos diferentes espaços do terreno. Ora joga António Silva e Rúben Dias, ora Gonçalo Inácio e Rúben, ora António Silva, Danilo e Gonçalo Inácio, para depois jogarmos (oficialmente) com Rúben, Pepe e Nuno Mendes (?). No meio, ora jogaram Palhinha, Neves e Vitinha; ora jogaram Palhinha, Bruno Fernandes e Vitinha, ora Bruno e Neves, para depois (oficialmente) jogarmos com Bruno Fernandes e Vitinha.
E o mesmo se verificou nos lugares da frente.
Mais, mesmo nas relações laterais, poucas foram as vezes em que os laterais e os extremos portugueses se “relacionaram” em simultâneo, à excepçāo de Dalot e Bernardo (mesmo que num sistema distinto). Nuno Mendes e Leāo estiveram, na realidade, em campo em simultâneo, mas com Leāo na frente com Cristiano Ronaldo e o lateral (ou agora também central) a jogar mais por fora e sem “bloqueios” ofensivos, como na noite de ontem frente à Chéquia.
Questāo: se sāo Jogos de Preparaçāo, o que estivemos realmente a preparar?
Bom, tentando colocar-me no lugar do nosso Selecionador:
- O (para mim imprescindível) Palhinha poderia fazer menos sentido num jogo em que a bola estaria sempre do nosso lado. Ok, posso entender.
- Ter Nuno Mendes poderia dar uma mobilidade e velocidade maiores na nossa Defesa, mas restringe, de forma efectiva as melhores potencialidades do jogador e colocou a nu as suas maiores dificuldades – a tomada de decisāo. Creio que apenas se aventurou a atacar por uma vez no primeiro tempo e com má definiçāo no passe. Aqui, com a entrada de Gonçalo Inácio, como peixe na água no Sistema de Saída Ofensiva a 3, a melhoria foi notória na decisāo, passe e capacidade de dar possibilidades efectivas aos receptores do passe de seguir a jogada. Com muitos erros que tenha na antecipaçāo, disputa e, por vezes na decisāo com bola, aspectos que entretanto irá forçosamente melhorar, a diferença foi grande.
- Bruno Fernandes, Leāo, Vitinha, Joāo Cancelo, Dalot, Cristiano Ronaldo e Bernardo surpreenderam pela positiva na reacçāo à perda, mas foram incapazes de fornecer todas as opções e desafiar de forma capaz a defesa da Chéquia. Talvez, aqui, porque tanto Bruno como Bernardo e Vitinha necessitam saber que “podem” fazer as tāo importantes diagonais nas costas da defesa com a garantia que alguém (ie. Palhinha) irá estar a cobrir qualquer desposicionamento momentâneo. Jota, com todas as reservas que tenho sobre a sua qualidade técnica e capacidade associativa no Jogo, tentou trazer isso, aliando à sua capacidade de pressionar e sentido de golo e foi importante nesse sentido. Mas insuficiente.
- Martinez mexeu bem, mas tarde. Era, com o decorrer da 2a parte, claro para todos que nāo seria um jogo onde Gonçalo Ramos, Rúben Neves, ou mesmo Joāo Félix iriam ser chamados, ou até importantes para aquilo que o jogo necessitava. Era necessária irreverência, capacidade de forçar o 1v1 e velocidade para colocar à prova a lenta e permissiva defesa Chéquia, que tanto espaço nas costas dos laterais deixou a Leāo, Cancelo, Dalot, Bernardo, etc…
Pensei, como talvez muitos, que o jogo de paciência seria facilmente resolvido.
Mas nāo foi assim.
Como disse o meu amigo Jean Paul, “hoje somos quase todos medianos” e Portugal correu o risco de se tornar realmente mediano frente a uma Chéquia frágil e mediana.
Tenho a garantia que Roberto Martinez sabe disto melhor que todos nós e irá agir de acordo de aqui em diante, com menos alterações e mais consistência.
Tenho uma confiança brutal nesta seleçāo!
Somos, realmente, das melhores equipas presentes no Europeu!
Em terras germânicas, vamos desfilando um rol de atletas como nunca o país teve, em quantidade e qualidade, e vamos alimentando este sonho de repetirmos um feito até hoje inédito e único.
Mas agora temos razões para sonhar verdadeiramente!
Por fim, já pensei se o próprio Roberto Martinez estará surpreendido com a quantidade de qualidade que tem ao dispôr. Tanta que pense, talvez, que basta colocar o jogador A em posiçāo B que a qualidade que apresentam normalmente (na sua posiçāo de origem) irá surgir naturalmente. Ou rodar quem joga de forma sucessiva e tudo segue no mesmo caminho.
Até eu talvez ficasse, é possível.
Mas, analisando friamente, é preciso perceber que nāo temos um meio-campo feito num Clube como em 2004 (Costinha, Maniche e Deco), ou uma seleçāo junta há muitos anos como em 2006, 2008 ou 2010. Somos, neste momento, 2 jogadores daqui, 3 dali, e uma mescla (muito importante) de diferentes gerações que se unem naquela que acredito ser a melhor geraçāo de sempre. E precisamos de tempo e consistência para que todos se conheçam e criem as tāo importantes sinergias para que tudo flua de forma natural.
Tenho a garantia que Roberto Martinez sabe disto melhor que todos nós e irá agir de acordo de aqui em diante, com menos alterações e mais consistência.
Tenho uma confiança brutal nesta seleçāo!
Somos, realmente, das melhores equipas presentes no Europeu!
Força Portugal!

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