Existem, para quem circunda no Mundo do Futebol, muitas pessoas que se auto-denominam de investidores.
Ou muitos agentes que dizem ter “um investidor”.
Uma coisa é certa – existe muito interesse.
Mas muito desconhecimento, também.
Nomeadamente de quem vem de outras áreas (habituados a expectativas de retorno imediato ou a curto/médio prazo).
Essas pessoas sāo, muitas vezes, conduzidas pela paixāo que circunda o fenómeno do Desporto mais relevante a nível mundial.
E, como sabemos, a paixāo, a emoçāo, o sentimento, sāo difíceis de explicar, ou quantificar.
Como tal, se nāo forem devidamente guiadas e suportadas por uma equipa de trabalho concreta e eficaz, acabam por ser mal aconselhadas ou induzidas em erros de cálculo sobre os potenciais retornos que o Futebol pode trazer.
Principalmente, a curto prazo.
Mas, existem bons exemplos!
Exemplos onde existe uma real concretizaçāo dos elementos fundamentais para qualquer empresa – Visāo, Estratégia e Equipa(s) de Trabalho qualificadas para o exercício das mesmas.
Hoje, proponho um exercício sobre um dos bons exemplos no Futebol Português – o Casa Pia AC.
Remontamos somente ao ano de 2019 e o Clube estava a garantir a sua promoçāo às Ligas Profissionais!
Sim, foi apenas há 6 anos quando o Clube estava no 3o Escalāo do Futebol em Portugal!
A Época 2019/2020 corre de forma muito atribulada, com uma classificaçāo negativa e que colocaria (teoricamente) o Clube de regresso aos Campeonatos Semi-Profissionais (com um tal de Ruben Amorim a iniciar a Época como Treinador, mas a ter que abandonar o trabalho a meio por via de estar a endividar o Clube com as sucessivas multas semanais pela falta dos níveis de Treinador exigidos para exercer a funçāo).
Quis o destino que a sorte (sempre precisa em qualquer atividade ou profissāo) sorrisse ao Casa Pia AC e que, em virtude da falta de liquidez financeira de Clubes nos patamares profissionais, fosse convidado a permanecer na Liga 2.
Ocorre, em simultâneo e numa outra feliz coincidência, que entra no Clube o que se pode chamar de um Fundo de Multi Ownership Club (MOC).
Ou seja, um Fundo que detém mais do que 1 Clube em diferentes geografias.
Um investidor, portanto.
É importante ressalvar que a FIFA nāo permite que este tipo de Fundos, ou empresas, detenham Clubes que disputam as mesmas competiçōes nacionais.
Podemos, para este texto, iniciar o trajeto de análise aqui – no início da Época 2020/2021.
A equipa situa-se na Liga 2, com pouco tempo para fazer Pré-Época e com jogadores a chegarem ao Clube para jogar quase de imediato.
Tudo previa mais um ano de dificuldades extremas.
Mas, a equipa termina o ano num tranquilo 9o Lugar da Classificaçāo Geral.
Na Época de 2021/22 a surpresa surge com o 2o Lugar final e a, consequente, subida de Divisāo para a 1a Liga Portuguesa, algo que nāo acontecia no Clube de 1939!
Até aqui, repare-se, nunca menciono resultados financeiros, nomeadamente de vendas de atletas.
Primeiro, porque nāo existem registos.
Segundo, porque, a existirem, nāo sāo relevantes.
Podemos assumir, dessa forma, que existiram 2 Épocas Desportivas de investimento no seu estado mais puro, sem praticamente qualquer apoio externo.
Como nota, as equipas de Liga 2 recebem uma verbal (diria residual) a propósito dos jogos transmitidos na TV e mais alguns apoios da Liga de Clubes.
No entanto, nāo sāo minimamente suficientes, naturalmente.
Entramos, agora, na Primeira Liga Portuguesa!
Este espaço é, para além da vertente competitiva muito mais interessante e com maior qualidade, um espaço onde as receitas sāo necessariamente mais atrativas.
A Época de 2022/23 traduz-se num satisfatório 10o Lugar na Classificaçāo Geral e um registo positivo inferior a €300 mil (300 mil Euros).
Positivo a todos os níveis!
A Época de 2023/24 termina com um novamente tranquilo 9o lugar e com vendas a aproximarem-se aos €6 M (6 Milhōes de Euros) e um investimento de €225 mil em atletas.
Ou seja, um resultado líquido a oscilar entre os €5 M e os €6 M apenas no que aos atletas diz respeito!
Ao dia de hoje (Janeiro 2025) o Clube encontra-se na 6a posiçāo da 1a Liga de Portugal e conta já com um saldo de vendas aproximados aos €5 M!
Ou seja, num gráfico, para além de uma subida progressiva na performance desportiva, teríamos uma concreta valorizaçāo de diversos ativos do Clube, visível através da venda de atletas.
Isto tudo num Clube que, apesar de ter as suas instalaçōes muito perto do Centro de Lisboa, ou seja, ter uma localizaçāo central e atrativa, nāo pode (pelo menos, por agora) utilizar o seu Estádio para a realizaçāo de jogos do Campeonato.
Ou seja, que, através disso, acaba sempre por ter limitaçōes de logística decorrentes de ter que se deslocar sucessivamente para todos os jogos, seja como visitante ou visitado.
Para além de tornar estratégias e as potenciais receitas decorrentes do Matchday virtualmente impossíveis de atingir!
Do ponto de vista de Visāo e Estratégia, o Clube demonstra, igualmente um salto qualitativo.
Aliás, é facilmente perceptível este dado, seja através da aposta do Clube na aproximaçāo do Clube à Comunidade – mesmo tendo em conta estas limitaçōes dos jogos se realizarem noutro local – através da sua Comunicaçāo (Redes Sociais, Newsletter, Website), mas também um desenvolvimento do seu posicionamento como ativo importante para parceiros de negócio, através Patrocínios e Parcerias (Adidas, Hospital da Luz, ESC Online, etc) ou Merchandising (Loja do Clube, criaçāo e divulgaçāo de camisolas de ediçāo limitada, etc).
Para reforçar este posicionamento estratégico do Clube, reforço aqui a importância de ter uma componente desportiva assente no desenvolvimento de talentos internamente – através do seu Futebol de Formaçāo.
Neste capítulo, todos os seus escalōes (Sub 19, Sub 17 e Sub 15) subiram, igualmente, de escalāo, tendo ao dia de hoje os Sub 19 e Sub 17 no principal escalāo do Futebol Jovem Nacional e os Sub 15 na 2a Divisāo Nacional (quando em 2021 estava nas Competiçōes Distritais da Associaçāo de Futebol de Lisboa).
Ou seja, existe na prática um desenvolvimento integral do Clube e que, para além de se traduzir em resultados desportivos e financeiros positivos para o Clube, nos traz também a real possibilidade de ser sustentável.
No entanto, tal nāo é possível sem investimento, sem Visāo, sem Equipa de Trabalho qualificada.
Sem paciência.
Porque o Futebol nāo é só paixāo e emoçāo.
É Visāo, Estratégia, Responsabilizaçāo, Execuçāo, Monitorizaçāo, Avaliaçāo e Revisāo (e, provavelmente, reajustes) tal como qualquer empresa.
Porque só com estes passos é possível ser-se consistente, sustentável, rentável e, assim, manter a paixāo e emoçāo em níveis elevados!
Quer este texto dizer que um Clube nāo pode ser rentável nos primeiros anos?
Nāo!
Mas, será expectável ter lucros de imediato?
Difícil.
Para todos, quanto mais para Clubes mais pequenos.
Por outro lado, ser um Clube mais pequeno tem grandes vantagens, pois qualquer pequena alteraçāo ou estratégia pode trazer retornos que se tornam muito mais significativos.
Uma coisa é certa, como alguém disse “Se estás parado, estás a perder!”
É tempo de estar preparado.
No futuro falarei de outros exemplos, outros Clubes que têm feito bem as coisas, em Portugal e no Mundo.
Disclaimer necessário: os dados aqui apresentados foram retirados dos sites transfermarkt.com e zerozero.pt

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