Foi já há alguns anos que terminei a minha Tese de Mestrado sobre este mesmo tema – a rentabilidade dos Clubes de Futebol em Portugal, nomeadamente entre os anos de 2015 e 2018.
No entanto, mesmo após todos estes anos, a realidade é muito semelhante à de entāo.
Essa análise demonstrava algumas tendências, além de uma clara diferença financeira (e competitiva) entre os diferentes Clubes.
Era clara a diferença entre Sporting CP, SL Benfica e FC Porto para os restantes, a todos os níveis, sendo que havia um grupo de Clubes que se tentava aproximar destes, sem grande sucesso.
Mas, na realidade, é muito difícil competir de forma minimamente semelhante quando as diferenças nas receitas sāo tāo desequilibradas.
Por exemplo, o SL Benfica recebe hoje pelos Direitos Televisivos pouco mais de €100M por Época, enquanto que uma outra qualquer equipa de meio da tabela para baixo receberá um valor (muito) inferior a € 10M.
Mais, a discussāo torna-se ainda mais desafiante quando percebemos que os valores recebidos pelos Direitos Televisivos representam, em média, (ou representavam, na altura) mais de 90% do total de receitas geradas pelos Clubes Profissionais em Portugal.
Atençāo!
Isto nāo significa que nāo é possível ser rentável, mesmo sendo um clube de menor dimensāo.
Penso, inclusive, ser o contrário.
De qualquer forma, esta diferença de potenciais valores de receitas é, a todos os níveis, gigantesca!
Existem muitos tipos de receitas possíveis, desde Direitos TV, vendas de Atletas ( e agora Treinadores), Ticketing e Matchday, Merchandising, Estádio (Naming, Publicidade, Espétaculos, Torneios, Eventos, Tours, etc), Membership (Quotas de Sócios, Revistas do Clube, etc), Patrocínios, Academias de Futebol, etc.
A questāo é, quantos destes é que sāo realmente explorados pelos Clubes em Portugal, de forma regular e consistente?
A apresentaçāo de contas pelo FC Porto (ou pela análise externa feita à última década), a juntar ao estudo ao Futebol Português apresentado pela Football Benchmark nos últimos dias sāo alarmantes.
Em primeiro lugar, porque nāo promovem a melhor percepçāo pública sobre o maior Desporto a nível Mundial.
Promovem, isso sim, uma contínua imagem de promiscuidade, negócios duvidosos e incompreensāo de tais resultados quando, por exemplo, geramos um valor tāo elevado de receitas em vendas de atletas, de uma forma geral.
Em segundo lugar, como consequência natural, prejudicam a percepçāo de potenciais investidores no nosso Futebol.
Em último lugar, criam uma outra percepçāo (aqui também sustentada com outros exemplos europeus) da fatal inoperância dos Clubes de Futebol na gestāo dos seus ativos financeiros.
Quase como se todos os Clubes de Futebol estivessem destinados a ter prejuízo.
Nāo é assim, de todo.
Existem bons exemplos.
Clubes que, por um lado, sāo capazes de vender de forma consistente!
Na altura da minha Tese, eu destacava o GD Estoril Praia, com Pedro Alves como Diretor Desportivo, que, mesmo tendo passado uma das 3 Épocas analisadas na Liga 2, conseguia vender atletas TODOS os anos.
Por outro lado, quase numa infeliz antecipaçāo de uma realidade que viria a surgir mais tarde, o CS Marítimo apresentava anos consecutivos sem ter capacidade de vender atletas.
Por outro lado, mesmo estando longe, percebo que existem Clubes que conseguem aproximar-se da sua comunidade, como observamos os recentes exemplos da UD Leiria ou do Académico de Viseu.
Ou ainda, quem nāo se recorda do Departamento de Marketing do Paços de Ferreira de há alguns anos atrás?
Existem bons exemplos!
Porque nāo conseguimos manter esse registo de forma consistente?
Reparem, existe uma tendência, cada vez mais acentuada, de ter grandes Grupos Financeiros e Estratégicos detentores de vários Clubes de Futebol em diferentes geografias mundiais.
Uma estratégia vanguardista, imponente, poderosa e com resultados muito interessantes para essas Organizaçōes.
Portugal seria, para mim, um local onde faria todo o sentido este tipo de Organizações terem uma presença forte.
Por vários fatores.
Mas destaco: pela elevadíssima capacidade dos nossos Recursos Humanos, no Treino e Metodologia, ou até pelos resultados incríveis nas vendas feitas pelos Clubes. Ou, ainda, pelo Clima ou pela natureza portuguesa de saber acolher as pessoas.
Mas isso nāo acontece.
Já parámos para pensar, em ambos os casos: Porquê?
Mais, conseguimos aprender com estas Organizações e, mesmo que seja a nível local, implementar uma estratégia similar?
E, nesse caminho, resolver os problemas que teimam em limitar o crescimento geral dos Clubes.
A começar por, com iniciativas como as recentes, de ser mais transparente, de apresentar as coisas como sāo e trabalhar em estratégias para melhorar o cenário.
Por um melhor Futebol.

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