Se conseguisse, este seria o meu texto que mais gostava que lesses.

Vi-te pela primeira vez em 2001 ou 2002, nāo sei precisar, na altura na equipa B do Sporting CP.

Tu tinhas uns 16 anos de idade, eu 14.

Nessa equipa, despontavam vários jogadores, os craques da altura, que já eram relativamente bem conhecidos do público, como: Carlos Martins, Paulo Sérgio, Edgar Marcelino, Osório, Paíto, Valdir, entre outros.

Recordo-me perfeitamente de 2 momentos desse jogo: o golo de Paulo Sérgio, num chapéu de belo efeito, e do momento em que foste substituído, já no decorrer da 2a parte.

Recordo-me desse momento porque, sendo a primeira vez que te via e sabendo que eras (de longe) o mais novo em campo, tiveste uma atitude que nāo entendi na totalidade. Ao seres substituído, preferiste dar a volta inteira ao campo – a única maneira de nāo passares pelo banco de suplentes da tua equipa – e ires diretamente para o balneário.

E, eu pensei: “Que arrogância e que falta de respeito pelos colegas!”

Muitos cometemos esse erro.

O erro de te julgar sem perceber a tua essência.

O erro de nāo perceber que a tua vontade de ganhar e de ser determinante na vitória, é o maior exemplo – em contexto desportivo, nomeadamente no Futebol – que alguma vez presenciámos na História de Portugal e do Mundo.

O erro de achar que a tua carreira foi fruto exclusivo da tua dedicaçāo e trabalho.

Nāo.

Que grande erro!

Tu foste, e és, o maior talento que alguma vez tivemos em Portugal.

Mas esse talento nāo ia ser suficiente para teres a carreira que tiveste.

E tu, inteligente, percebeste isso cedo e aliaste a tua dedicaçāo e trabalho ímpares ao teu talento, para seres um dos maiores de sempre no Futebol.

Muitos cometem, ainda esse erro.

Ainda nāo perceberam o teu impacto, o que fizeste.

Esquecem que, para os ídolos de hoje, como Mbappé ou Haaland, para chegarem ao teu nível têm de marcar mais de 50 golos por Época, nos próximos 10 anos…

Têm de ganhar 5 Champions League, 5 Ballon d’Or, quase 1 dezena de Campeonatos Nacionais, entre muitos outros títulos coletivos e individuais…

Mas o tempo passa e a tua capacidade de ser decisivo diminuiu, como acontece sempre e com todos nós.

Aliás, fomos tantas vezes habituados a olhar para ti como um super-herói que perdemos a noçāo que és, afinal, um ser-humano.

Mas tu, na verdade, nāo mudaste.

O miúdo de 16 anos que, no Mundo dos crescidos nāo queria ser substituído, ou nāo queria deixar de ser ele a marcar, a fintar, a ser a estrela, nāo desapareceu.

Esse continua aí, igual.

Por isso, choras quando nāo ganhas a Taça do Emir da Arábia Saudita, ou reages da forma que reagiste na final da Supertaça da Arábia.

Muitos pensarāo: “Logo tu, que já ganhaste tantas Champions League! O que interessa isto?”

Sāo os mesmos que nāo te entendem, desde o princípio.

Hoje, agradeço que tenhas nascido assim.

Porque, se nāo fosses assim, nada teria sido como foi.

E eu, egoísta como sempre, jamais teria visto aquilo que vi.

Obrigado, é o mínimo que te posso dizer.

Mas, Cristiano, também preciso de te dizer o seguinte: o que fizeste nāo se faz.

E tu, no olhar que a tua experiência já carrega, sabes que nāo estiveste bem.

Pode ser mais forte que tu, por vezes, porque nāo deixas de ser tu.

Eu sei.

Mas, se alguém já provou que é capaz de ser o melhor, até nos exemplos, foste sempre tu.

Protege-te, seria o conselho que eu te gostava de dar.

De tudo e de todos.

O Cristiano, jogador de Futebol, vai terminar, um dia. 

Mas tu vais seguir a tua vida, de alguma forma, diferente.

Porque, no fundo, eu sei que este nāo é o Cristiano que eu vou guardar na minha memória para sempre.

Mas, acima de tudo, este nāo é o exemplo, nem o Cristiano que todos queremos que os nossos filhos se recordem.

Como escrevi no início, este seria o texto meu que mais gostava que lesses.

Um abraço sincero.