A Periodização Tática (PT) é uma Metodologia de Treino que ganhou muito destaque nos círculos de Treinadores de Futebol, contando com uma enorme influência dos treinadores portugueses, nomeadamente do super-titulado Treinador português José Mourinho, originalmente influenciado por Vitor Frade, cientista desportivo e professor na Universidade do Porto. Vítor Frade trabalhou extensivamente na compreensão dos aspectos táticos do Jogo e em como integrá-los no Treino.

Mas mantém-se a pergunta: O que é a Periodização Tática?

“A Periodização Tática é uma Metodologia de treino (…) com uma enorme influência dos treinadores portugueses, nomeadamente do super-titulado Treinador português José Mourinho, originalmente influenciado por Vitor Frade”

Embora exista uma variedade significativa de estudos que exploraram o impacto desta Metodologia no encurtamento do espaço entre a Estratégia de Jogo e o Treino, pareceu-me mais fácil estabelecer algumas considerações para melhor compreensāo este fenómeno.

  • Abordagem centrada no jogo: A PT gira em torno da criação de sessões de Treino que refletem a dinâmica do Jogo, em formato o mais aproximado possível à realidade. Este elemento de realidade nas Sessões é a característica mais relevante deste conceito. Os estudos indicam, ainda, que esta abordagem centrada no Jogo aumenta a capacidade dos jogadores de traduzir conceitos abordados em Treino em situações reais do Jogo, naturalmente. Portanto, é justo assumir que com a evoluçāo e maior integraçāo dos sistemas de Scouting – neste caso, observando os potenciais pontos fortes e fracos das equipas adversárias, colectiva e individualmente – no plano microciclo semanal, parece lógico ter as Sessões de Treino adaptadas ao que supomos ser a realidade de jogo esperada pela Equipa Técnica.
  • Integração de Elementos Táticos e Físicos: A PT integra perfeitamente os aspectos táticos, técnicos, mentais e físicos do jogo. O princípio fundamental da PT é que todo o trabalho realizado deve estar alinhado com o próprio modelo de jogo e não deve ser categorizado, e trabalhado, separadamente. Portanto, entende-se que todos os envolvidos estāo envolvido naquilo que se torna o Modelo de Jogo proposto, sendo necessário que haja um entendimento colectivo sobre os papéis que cada Departamento pode agregar às necessidades do Modelo de Jogo. Embora os estudos enfatizem que esta abordagem holística torna os jogadores mais completos, capazes de as suas tarefas táticas de forma eficiente ao longo de um jogo, há certamente desafios a enfrentar na compreensão de outros Departamentos do Clube, especialmente se o trabalho era feito de forma diferente antes.
  • Especificidade e Contexto: A PT enfatiza o treino situacional e específico do contexto, garantindo que todo o contexto esteja relacionado ao jogo e alinhado com o Modelo de Jogo da equipa. Estes elementos são cruciais, uma vez que a investigação destaca que os jogadores expostos a vários cenários de jogo durante o treino tornam-se mais adaptáveis ​​e tomam melhores decisões em campo. Parece óbvio assumirmos isto agora, provavelmente para todos os envolvidos no Futebol, mas há alguns anos não era bem assim e existia realmente muito mais trabalho analítico, separado do contexto ou jogo. Podemos inclusive supor que havia um certo elemento de imprevisibilidade associado ao que o jogo acabaria por ser, o que também promoveu a criatividade e certos elementos de liderança. Discutivelmente. Mas devemos entender onde posicionamos nossas crenças para melhor sabermos explicá-las. Assim como existem Modelos de Desenvolvimento Juvenil apoiados na ideia de auto-descoberta, ou descoberta guiada, onde orientações mínimas são apresentadas aos jogadores e a sua experiência de decisões/ações bem sucedidas ou erradas acaba, eventualmente, por guiá-los para um conjunto de ações que lhe permitem ter sucesso no jogo.
  • Periodização e Progressão: A periodização adequada das cargas de treino é a base da PT. Estudos demonstram que a progressão estruturada na intensidade e complexidade do treino ajuda os jogadores a atingirem o pico nos momentos certos e reduz o risco de lesões. O progresso destes princípios, muito relacionados com a carga física e mental das Sessões de Treino, apoia a integração (mais uma vez) de todo o trabalho realizado com o foco no momento competitivo, sendo que hoje em dia é muito comum ter as semanas contadas inversamente para o dia do jogo. Por exemplo, digamos que a equipa tenha jogo num domingo e a primeira Sessão de Treino daquela semana é na terça-feira. Terça-feira passa a ser o Treino -5, Quarta-feira o -4, Quinta-feira o -3, Sexta-feira o -2 e, por fim, o Sábado o -1, tendo como foco principal o número de dias que separam o Treino do Jogo. Portanto, a progressão do contexto, da carga de trabalho e das informações fornecidas ao longo do planeamento semanal estabelece instantaneamente a necessidade de um processo de pensamento cuidado para que os jogadores cheguem ao momento competitivo prontos para cada momento e com as estratégias esperadas dos adversários frescas nas suas mentes.
  • Consistência e Repetição: A PT promove consistência e repetição de conceitos táticos ao longo do processo de Treino. A pesquisa sugere que o treino repetitivo auxilia na automatização dos processos de tomada de decisão dos jogadores, tornando-os mais eficientes em campo. Embora possamos olhar este conceito para um Futebol mais profissionalizado, ele pode (e deve) ser aplicado às Etapas de Desenvolvimento do Jogador Juvenil, nas Academias. Eu, como muitos de vós, já trabalhei sob abordagens de treino planeado por Microciclos (planeamento estabelecido numa perspectiva semana após semana) e Mesociclo (períodos de planeamento de 4 a 6 semanas) e fornecer espaço para consistência e repetição em estágios mais jovens teve um impacto definitivo na aprendizagem do Futebol.

“Entendemos a importância do físico, do técnico e do psicológico”, afirma, “mas nesta periodização o que controla tudo é o tático. É por isso que se chama Periodização Tática.”

José Mourinho

  • Expertise do Coach: A implementação eficaz da PT depende muito da expertise do Treinador em gerir diferentes informações de diferentes Departamentos do Clube. Esta Metodologia é sustentada na importância do Treinador entender a fundo a mesma, cercando-se de Staff que contribua para a Avaliação e Desempenho da equipa e, principalmente, ter a capacidade de adaptar tudo isso às necessidades da equipa. Na verdade, poderá inclusive exigir mais tempo para a implementação do Modelo de Jogo proposto, mas existe um suporte teórico de maior compreensão do Jogo e dos picos de performance subjectivos que sāo mais relevantes para o Treinador. Por exemplo, a progressão da carga de trabalho físico ao longo da Temporada, assim como a intensidade e complexidade da informação disponibilizada, e consequentemente as Sessões de Treino individuais e semanais, são elementos-chave para quem defende a implementação desta metodologia.
  • Monitorização e Avaliação: A PT incentiva a monitorização e avaliação contínua do desempenho e progresso dos jogadores. Tal como referi anteriormente, esta Metodologia assenta no envolvimento contínuo de todos os departamentos do Clube num objectivo comum. Os estudos sublinham, igualmente, a importância da tomada de decisões baseada em dados concretos, permitindo aos Treinadores definirem os planos de Treino, reforçando novamente a necessidade de ter uma equipa em torno do Treinador principal, fornecendo a tal análise diferenciada e argumentos baseados em dados concretos para melhorar a toma de decisão.
  • Compreensão do Jogador: A compreensão dos conceitos táticos por parte dos jogadores é vital e deve ser treinada adequadamente, consoante a sua idade e nível. Aqui, novamente, o conceito de progressão está intimamente ligado, especialmente quando se promove a Metodologia em estágios mais jovens de desenvolvimento. A melhor dica que posso fornecer é a de iniciar de forma reduzida (espaço, tempo e relações numéricas) e ir progredindo de acordo. Não apresse as coisas. Encontra um entendimento compartilhado entre Jogadores e Treinadores sobre a abordagem tática para cada momento do jogo e prepara Sessões de Treino que promovam e ajudem efetivamente os atletas na execução de suas tarefas táticas e princípios estratégicos.
  • Flexibilidade Tática: A PT permite flexibilidade tática consciente, permitindo que as equipas se adaptem a diferentes adversários e situações de jogo. Consequentemente, equipas bem treinadas podem ajustar as suas tarefas táticas com mais facilidade durante os jogos, e esta é uma vantagem competitiva que deve ser nutrida sem comprometer os conceitos de consistência e repetição explicados anteriormente. Se a equipa tiver um conjunto de comportamentos definidos que são independentes do sistema tático existente, essa ferramenta permitirá que a qualquer momento se apresentem argumentos que são difíceis de combater, pois existirá (teoricamente) uma resposta para todos os desafios que a outra equipa pode provocar – e é aqui que a vantagem competitiva pode ser diferenciada. No entanto, independentemente da beleza desta ferramenta e do quão poderosos nos podemos sentir quando a equipa é capaz de colocar isso em prática, esta é a tarefa mais difícil para um Treinador, e leva uma boa proporção de tempo para ficar estável em toda a equipa. Sem dúvida, existirá sempre o sentimento de que alguns jogadores estão prontos para progredir mais rápido do que outros (consistência e repetição alinhadas com a progressão da complexidade das informações fornecidas), e isso é normal. Mas é importante reforçar que, em última análise, o objectivo tem de ser melhorar coletivamente e ter o Modelo de Jogo implementado transversalmente em toda a equipa e que se expresse em momentos competitivos.
  • Desenvolvimento de Longo Prazo: A PT é visto como uma Metodologia para o desenvolvimento de jogadores a longo prazo e é aqui que gostaria de encerrar estas considerações, pois pode muito bem ser aplicado nas Etapas de Desenvolvimento Juvenil que também é tāo relevante e discutimos aqui no blog. Os princípios da PT complementam um vasto conjunto de ciências e disciplinas que obedecem às ideias e visão de jogo do Treinador, a partir das quais pode começar a implementar o Modelo de Jogo. Os benefícios da utilização desta Metodologia num Clube ou Academia são imensos, pois proporcionam um percurso do atleta definido de diferentes contextos e comportamentos que crescem com o tempo, de forma transversal e sustentável. E isso é o mais importante na hora de desenvolver competências – estar em harmonia com as fases de desenvolvimento, sendo progressivo e organizado. Não temos todos que defender as mesmas táticas e estratégias, naturalmente, mas os comportamentos individuais são, na sua génese, muito semelhantes e são os mais importantes para serem compartilhados nas fases mais jovens.

A Periodização Tática tornou-se uma Metodologia valorizada no Treino de Futebol devido à sua abordagem centrada no Jogo, integrada e específica ao contexto. A implementação eficaz da PT requer uma compreensão profunda da Metodologia, um grande compromisso com a consistência e a progressão, aliadas à capacidade de adaptação e à evolução das necessidades da equipa. Os Treinadores que adoptam os princípios da PT podem ajudar os jogadores a preencher o espaço existente entre o Treino e o Jogo, levando, em última análise, a um melhor desempenho em campo.

Neste momento é claro para todos que existe uma conexão profunda entre o Modelo de Jogo e a Periodização Tática, e tem realmente de ser assim. O Modelo de Jogo é, no fundo, um Manual dos comportamentos desejados para a equipa executar em todos os momentos do Jogo, e quanto mais específicos e completos forem, melhor será a sua conexão com as Sessões de Treino. Naturalmente, para poder preparar Sessões de Treino adequadas e fornecer feedback preciso e concreto para conseguir o movimento coordenado dos jogadores que permitirá que os comportamentos desejados se tornem reais numa situação de Jogo, a preparação, a visualização e a experimentação são elementos-chave.

“Não nos enganemos, todos ganham e perdem, independentemente das Táticas e Estratégias adoptadas.
Claro, alguns mais do que outros.”

Como sabemos, deve haver uma teoria antes da Prática, e todos devemos preparar a nossa Teoria.

Uma dica?

Gasta uma quantidade significativa de tempo a preparar a tua Teoria, principalmente visualizando as diferentes abordagens ao jogo existentes, métodos de Treino e diferentes exercícios, e entendendo exatamente por que desejas atacar ou defender de uma certa maneira. O porquê de nos identificarmos mais com o Treinador A ou B.

Não nos enganemos, todos ganham e perdem, independentemente das Táticas e Estratégias adoptadas.

Claro, uns mais que outros.

E eu sou daqueles que acreditam que a qualidade individual dos jogadores é um elemento fundamental para o sucesso, tal como acredito que um grupo de bons jogadores pode promover um Treinador mediano, mas um Treinador excepcional dificilmente conseguirá ser campeão com um grupo de jogadores medianos.

Mas, em última análise, temos de estar preparados para sermos confrontados sobre o porquê de apoiarmos a nossa teoria de uma certa maneira e ter a capacidade de explicá-la.

Se não, como podemos explicar o que desejamos em detalhe?

Como suportamos as nossas decisões?

Uma vez mais, devemos primeiro entender-nos a nós mesmos e porque desejamos que o comportamento da equipa seja A ou B em cada um dos momentos do Jogo, antes de tentar influenciar os outros com essa ideia.

Espero que isto ajude! 

Um abraço!

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